FELIZ ANO NOVO

As ocasiões em que as famílias se reúnem para celebrar são múltiplas e de âmbito muito diverso: aniversários, Dia da Mãe, baptizados, casamentos, comunhões, etc. As festas de fim de ano – Natal e Ano Novo – têm um simbolismo e um aspecto especial, uma vez que a grande maioria das famílias se reúne ao mesmo tempo para festejar.

Quando os conhecidos se encontram e trocam alguma notícia, eles não perguntam "Você vai fazer alguma coisa no Natal?" mas "O que você faz no Natal?" As cidades são iluminadas, muitos mercados de Natal são organizados, muitas empresas interrompem suas atividades por alguns dias, as lojas abrem até aos domingos.

É tão natural viver as férias com a família que se tornou costume lembrar que este período é ainda mais difícil para as pessoas isoladas do que o resto do ano. A solidão pesa ainda mais no final de dezembro.

Um ritual
Talvez mais do que qualquer outra, as comemorações de fim de ano costumam seguir um ritual. A partir das representações sociais do feriado específicas de determinadas regiões e de determinadas origens sociais, uma espécie de rito se estabelece de ano para ano em cada família em particular. Basta estar convencido disso para pensar nos problemas e transtornos que desestabilizam a família quando morre a pessoa ou pessoas que tradicionalmente organizavam a festa familiar. O que nós vamos fazer agora? Quem o fará? De acordo com que procedimento?

Vários choques
No entanto, essa visão da celebração familiar se restringe ao ponto de vista de um único grupo familiar, o que está longe de esgotar a realidade vivenciada pelas pessoas. Por definição, cada casal é composto por duas pessoas de duas famílias de origem diferentes e, portanto, também de duas tradições ou hábitos diferentes. A nova família deve, portanto, reconstituir cada vez uma nova tradição comum, mas também viver com os vínculos com as duas famílias originais. O tipo de refeição, se a missa é obrigatória ou não, se os presentes são dados, como e a que custo, como se vestir e tudo o que gira em torno da celebração muda de família para família.

As diferenças podem em alguns casos ser de detalhe, em outros revelar “culturas familiares” bastante opostas. Enquanto as relações estiverem bem, todo mundo coloca água no vinho e se adapta a ele, mas se surgirem tensões, cuidado com os embates.

E esses conflitos de datas, de tradições, de cultura só se acentuam e se multiplicam quando ocorrem as separações e recomposições familiares. Para alguns pais jovens, por exemplo, cujos pais estão separados e cada um reconstituiu um novo casal, as “obrigações” que devem ser cumpridas só se multiplicam. O período de férias de fim de ano às vezes se torna uma dolorosa maratona onde eles se perguntam como se virar aqui e ali, às vezes forçados a desistir das festas mais "descontraídas", porque são as únicas em que não serão mantidas muito rígidas .

Partes comerciais
É apenas uma questão de cultura, é difícil dizer. Mas as festas de fim de ano se tornaram quase uma obrigação social. E a sociedade de consumo não perdeu a sorte inesperada. Muitas empresas atingem um volume de negócios atraente durante as férias, o que lhes permite compensar os meses lentos.

Vemos assim que, além das pressões ou obrigações familiares, existem as pressões sociais ou comerciais. Sem dúvida, pesam mais sobre as famílias cuja renda é limitada e que se sentem obrigadas a “manter sua posição”.

As observações anteriores, nas quais muitos indivíduos e famílias podem reconhecer as tensões que já enfrentaram, pintam um quadro muito menos relaxado das férias do que o anúncio faria você acreditar.

Como fazer ?
Quando alguém se vê envolvido em várias e múltiplas pressões externas, nem sempre é fácil adotar uma atitude, especialmente porque nas celebrações familiares, por definição, também é necessário conciliar diferentes pontos de vista.

A primeira coisa a fazer é provavelmente que todos tentem esclarecer o que querem para si mesmos e depois descobrir o que os mais próximos esperam. Isso não resolve todos os problemas, mas pelo menos identifica as discrepâncias e as esclarece. Ao começar por tentar determinar um projeto comum para a pequena unidade familiar, pode ser mais fácil passar para o confronto com as outras unidades.

No contexto das relações familiares, onde as aparências e os ciúmes ocultos são muitas vezes de grande importância, a superioridade geralmente está em ação. Não será absolutamente necessário se desvalorizar em relação a um irmão ou irmã.

Na dinâmica da evolução familiar, também é essencial dar (ou impor) a possibilidade de ver as tradições evoluir de acordo com as mudanças nas configurações familiares e as idades dos protagonistas. O que agrada aos 40 pode ser pesado aos 60 e intragável para os adolescentes. Mais do que em qualquer outra ocasião, o hábil equilíbrio da vida familiar acaba sendo uma dor de cabeça durante a temporada de férias. Se queremos que todos encontrem bem-estar lá, temos que ser muito flexíveis, o que está a mil milhas do aspecto convencional e fixo que as celebrações familiares costumam tomar.

Como podemos ver, o sonho de harmonia familiar que muitas vezes subjaz às celebrações familiares não é garantido de antemão. As armadilhas são muitas. Para que essas reuniões familiares sejam momentos bons para o maior número e fortaleçam os laços familiares, é necessário demonstrar uma análise crítica em relação às obrigações culturais e econômicas, a capacidade de negociação e o reconhecimento da legitimidade. visão, flexibilidade e imaginação. Mas no que diz respeito ao funcionamento sociológico da dinâmica familiar, que visa também definir a sua própria identidade, esta é uma abordagem que necessita de ser constantemente relançada.